sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tarde

- Então, é isso?
- Sim senhor, apenas que na próxima vez o senhor controle o barulho.

Ele subia os três lances de escada até seu apartamento. Não havia razão para se aborrecer com o porteiro, afinal só estava trabalhando, anunciando as últimas reclamações dos vizinhos do primeiro andar. Não se importava com esse tipo de aporrinhação e, passadas algumas cervejas, esqueceria novamente os moradores rabugentos.
Parou em frente à porta, catou as chaves no bolso, enfiou-as e forçou a fechadura.
O lugar era do tamanho ideal para um sujeito solteiro de vinte e tantos anos. Da entrada, viam-se os 4 ou 5 metros de extensão do cômodo principal, ao final a janela imensa escancarada, deixando passar toda vida que o dia ainda preserva às cinco e meia da tarde.
De todo o espetáculo de reflexão da luz nas paredes e no chão, da brisa suave que refrescava o ambiente e do impressionante silêncio que se fazia presente, nada guardou a atenção do rapaz por mais de cinco segundos.

- Enfim...

Colocou algumas cervejas no congelador, alongou as costas, fechou a porta e se jogou no sofá. Ligou o aparelho de som, Mile Davis. A bebida demoraria a gelar e, talvez por misericórdia da existência, era tarde de sexta-feira.




2 comentários:

  1. Bá,

    "De todo o espetáculo de reflexão da luz nas paredes e no chão, da brisa suave que refrescava o ambiente e do impressionante silêncio que se fazia presente, nada guardou a atenção do rapaz por mais de cinco segundos."

    Primeiro tu percorre cada detalhe e a espectativa por trás dos olhos se dilata. E de repente, a negação do rapaz diante de tanto detalhe.

    ô que saudade de se deparar com uma tarde de sexta-feira à mercê de um sofá.

    Abraços, Miguel

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  2. Vou continuar te lendo, mas aqui já anuncio que te linko, sigo, per-sigo, não largo.

    Escorre bonito, Miguel!

    Beijo

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